20 de jun. de 2011

São João sem tradição



Enfim, chegou o mês de junho. Como bom nordestino, apaixonado pela rica cultura que emana do povo sofrido, porém, não menos alegre, companheiro e acolhedor, renovo sempre as minhas forças neste mês especial. 

O mês junino reserva aquele friozinho gostoso, que sempre pede um forró “acochado” e um licor. É o mês, em minha opinião, da maior e melhor festa popular do Brasil. Que Carnaval que nada! O São João sim deveria ser a festa da Bahia. Se o Carnaval mobiliza 2 milhões de pessoas em 6 dias, concentrados apenas na capital baiana, a festa junina movimenta praticamente todo o estado (sem falar no nordeste brasileiro!), durante um mês inteirinho. O São João é uma festa democrática, onde as pessoas celebram a alegria sem maldade, onde as famílias aproveitam as férias para estar juntas, onde a capital faz o caminho contrário e vai reencontrar suas raízes.

Ai! São João, São João do carneirinho... 

Infelizmente, já me sinto saudosista em ver algumas tradições se perdendo. Não faz muito tempo, as fogueiras eram queimadas nas portas dos compadres, as quadrilhas juninas eram formadas pelos parentes, amigos e vizinhos. A música... Ah! A música, esta soava no fole de 120 baixos do Gonzagão, na voz marcante de Dominguinhos, na maestria original do Trio Nordestino, entre tantos outros que se esforçavam para manter essa saborosa linha musical, sem perder a referência. Comidas, brincadeiras e religiosidade compunham o leque de atrações da festa do interior.

 Recentemente, em entrevista a alguns veículos de comunicação, Domingos Leonelli, secretário de turismo do estado, informou que o São João da Bahia está sendo “vendido” em grandes feiras de turismo pelo Brasil a fora. A intenção do Governo é consolidar a festa como um dos principais produtos turísticos da Bahia. Esse empenho é laudável, claro, porém, parafraseando Paulinho da Viola: “tá legal, eu aceito o argumento, mas não me altere o samba tanto assim”. É preciso, urgentemente, que se pense em “vender” a tradição, e não descaracterizá-la, em detrimento aos anseios gananciosos de um setor que busca sugar o sangue do estado (o nosso sangue, diga-se de passagem!).

Na “rabeta” desse comércio, estão os que se aproveitam para inserir elementos que nada tem haver com a festa que se propõe ser “vendida”. Palcos gigantes, som estridente, luzes, axés, pagodes, trios elétricos, sem falar no pseudo forró, o plastificado, que aproveita a oportunidade para levar toda a grana da tradição local. Vale lembrar a polêmica que está ocorrendo em São Francisco do Conde, onde a imprensa denunciou que apenas o cantor Luan Santana custará para os cofres públicos a bagatela de R$ 500.000,00 (a prefeitura rebate, afirmando que irá pagar “somente” R$ 260.000,00). Segundo a prefeita de lá, tudo feito conforme a lei.

Tudo bem, pode até ter sido legal, mas um valor desses, pago a um cantor midiático, que em nada representa a cultura nordestina do São João e não irá contribuir culturalmente em absolutamente nada para os munícipes é, no mínimo, imoral.

Em nossa Camaçari não é diferente. A desculpa é sempre a mesma, o povo precisa de atrações “boas”, de nome nacional. Eu prefiro crer no que o escritor Ariano Suassuna sempre fala: o povo precisa é de filé, só assim largará o osso. O filé da cultura, do conhecimento das nossas raízes e da valorização de nossa identidade nordestina. Não é coisa impossível pensar que poderíamos fazer uma festa voltada à tradição. Bom exemplo disso é o que aconteceu este ano no estado da Paraíba, onde o governo, através do secretário estadual de cultura, Chico César, determinou que os recursos disponíveis para investimento na festa junina fossem destinados a quem, evidentemente, mantém viva a tradição da própria festa, sem descaracterizá-la. Por tanto, nada de aviões, limões, calcinhas e mulheres perdidas, apenas gente da terra seria contratada. Antes que falem em censura, qualquer casa de show ou boteco paraibano poderá contratar e oferecer estas atrações para os turistas. Não é proibido! É semelhante ao que a Deputada Estadual Luiza Maia, em peleja louvável, quer tornar lei no estado, não mais permitindo que o dinheiro público financie bandas que tocam músicas que denigrem a imagem da mulher. Isto não é censura, é apenas uma forma de dizer: “ninguém mais vai me pedir a patinha, bater na minha cara e depois mandar eu botar a ‘boceta’ no pau!”. 

Lamentavelmente, não é apenas Camaçari ou São Francisco do Conde que sucumbiu a este modelo ordinário de se comemorar o São João. Assim como acontece nas outras festas tradicionais do município, como a lavagem de Arembepe, em uma única edição, as estrelas da mídia vêm em nossos palcos e levam um montante de dinheiro que daria para sustentar todos os grupos de cultura popular de Camaçari, durante toda a gestão do Prefeito Caetano. Faça a conta! Trocamos duas horas de show pirotécnico, por oito anos de Espermacete, por exemplo. 

O que nos resta é torcer para que a balança seja ao menos equilibrada. Enquanto não vemos as coisas melhorarem no que diz respeito aos investimentos na preservação e manutenção de nossas tradições populares, vamos pegar o caminho da roça, dançar um xote ao som do Lua, beber um licor e estourar alguns traques. Quem sabe assim, não pulamos essa fogueira.

Viva São João!

Salve,

Caio Marcel admcaio@gmail.com é administrador de empresas e formado em capoeira regional, pelo Grupo de Capoeira Regional Porto da Barra. Também é responsável e mantenedor do Projeto Social Crianças Cabeludas, no bairro do Parque das Mangabas, Camaçari.

Viva São João!

Junho chegou. Primeiro semestre indo embora. Prenúncio de mais um final de ano chegando.
Mas, para mim nordestino ‘matuto’ Junho é muito mais do que isso.
Junho para mim é tempo de cheiro. Cheiro de terra molhada pela chuva. Chuva que faz o
sertanejo passar a noite em claro agradecendo a DEUS por tanta alegria. Cheiro de pamonha,
canjica, bolo de milho e fubá, de dar água na boca. Cheiro de asfalto, da estrada que nos leva
ao interior aonde, independente de onde venhamos, todos nós ‘esquecemos’ um pouco de
nossas raízes durante os outros onze meses do ano. Cheiro de suor de menina misturado com
perfume doce, exalado no rastapé do forró gostoso, chamegado, dançado na beirinha da
fogueira.
É tempo de sabor também. Lembra do cheiro de pamonha, canjica, bolo de milho e fubá? Deu
água na boca mesmo, né? Vamos provar então? E o sabor do licor? Tem maracujá, genipapo,
tamarindo, cajá. Também tem os mais sofisticados, de menta e chocolate. Amendoim cozido
que chega derrete na boca. Cuidado para não comer a bacia inteira sozinha e penar com uma
dor de barriga daquelas. É muito sabor de amizade, de partilha, de comunhão. ‘São João
passou por aí?’ Graças a DEUS sempre passa. E, de pergunta em pergunta, de casa em casa, a
gente vai enchendo a pança. Para quem tá preocupado com a boa forma, é um crime. Para
mim sempre foi uma das 10 maravilhas do mundo.
Não posso deixar de falar dos sons. Som de trio tocando forró na praça. Milho queimando na
fogueira. De beijo conquistado na noite de São João, porque, se no carnaval é liberado ‘roubar’
beijo, no São João tem que conquistar. Som de lembrança, da voz rouca do Rei Gonzagão. Som
de reza da trezena de Santo Antonio. Há quem jure que conseguiu casar por conta deste rogo.
Som de foguete no céu, chuvinha, vulcão e bomba. De espada rasgando e zunindo e o povo
todo doido, correndo pra tudo quanto é lado. Mas, acho que o que mais gosto é o da voz doce
dos antigos, sentados na porta de casa, filosofando simples e sabiamente, ensinando de graça
aos que querem escutar.
Já falei dos cheiros, sabores, sons e agora vou falar das cores. Cor de neblina cobrindo o mato
no raiar do dia. Cor de lua cheia. Cor de estrela faiscando, quando a lua resolve ser generosa e
míngua um pouco. Estrela cai e esta cor também é ímpar. É cor de olhinho brilhando, quando o
amor vai se aprochegando. É cor quente, de roupa da quadrilha girando. É cor de casa, tão
cheia de gente de tudo quanto é cor que a gente nem consegue saber qual é a cor mesmo que
a gente tá vendo.
É tanto forró, canjica, gente, foguete, lua, licor, reza, raízes, filosofia, perfume, amor, trio,
amendoim, beijo, Gonzagão, amizade, quadrilha, conquista, chuva, fubá e estrela que só de
escrever já dá até pra sentir.
Sentiu?
Paulo Pereira

3 de mar. de 2011

Já é carnaval Cidade, Acorda pra ver!!!

 Carnaval
Queridos amigos, começa hoje o Carnaval. A dita maior festa popular do mundo. Para mim, soteropolitano de corpo, alma e coração, o Carnaval é mais que uma festa. É a semana de férias reais. Férias da vida, das angústias e preocupações do cotidiano.
E é justamente por isso que farei agora algumas pequenas considerações.
Se você é folião, daqueles que, já na semana anterior não consegue pensar em outra coisa a não ser no agito da rua, lhe darei algumas dicas para tornar sua folia ainda mais especial.
Primeiro, cuide-se. Cuide do seu corpo, pois a rotina é puxada. Beba muita água. Se alimente com coisas leves. Feijoada e mocotó caem muito bem nesta época. Se for sair de dia, use um chapéu para proteger do sol. Apesar de não ser o Bial, também sugiro que use protetor solar, mesmo sabendo que, naquele aperto da avenida a maior parte do corpo o sol nem vê, né? Se você só for sair à noite, também vale usar o chapéu, a menos que não se incomode em tomar banho de cerveja, item que chove em abundância durante os festejos. Seja da paz e deixe o orgulho de lado. Se lhe pisarem o pé, sorria e peça desculpas. Covardes normalmente vivem mais e são, na grande maioria, lindos, com os dentes intactos.  Quanto a heróis e valentões só DEUS é quem sabe. Proteja-
se, sempre! AIDS e outras doenças não avisam onde habitam. Use Camisinha. É melhor chupar bala com papel do que ficar diabético! Existe uma máxima popular que diz que “DEUS protege as crianças, ou loucos e os bêbados.” Como já faz bastante tempo que você passou da fase infantil e, sua loucura é de conveniência, melhor beber, só um pouquinho com moderação pra garantir, pois, com a proteção do PAI tudo fica fácil.
Segundo, cuide da sua alma. Desarme seu espírito. Não entre na folia. Deixe que ela entre em você. Ame muito. Beije muito. Divirta-se. Esqueça suas amarras. Solte seus bichos, ou suas bichas, se assim preferir. Você está lá para se fazer feliz, desde que respeite o outro, portanto, não importa o que eu penso, é você quem tem que se sentir bem. Seja, sempre, 100% você! Vale o beijo roubado, sem violência, é claro. Vale o bom e velho beliscãozinho no bumbum,
 obviamente, também respeitando a regra antiviolência. Abrace o amigo e saia pulando e rodando. Puxe de leve o cabelo da gatinha, mas, não molhe, pra não correr o risco de estragar a escova e finalizar o carnaval da moça.
Terceiro, esteja no lugar certo, na hora certa. Muitas atrações são fantásticas, mas, as três que relatarei são imperdíveis: 1 - Não perca a Alvorada do Gandhi. Ignore os aspectos místicos e religiosos. Não é um culto. É uma manifestação de cultura latente. Vá, assista sem preconceito e se deixe maravilhar pelo tapete branco sendo tecido, lentamente em mais de cinco mil pontos por mãos que só podem ser Divinas;



 2 - Dê um jeito de chegar perto, ao lado do trio de Ivete. Olhe para aquela mulher, assim mesmo, de baixo para cima e, se delicie. Aprecie a consolidação da exuberância feminina.
 Posso garantir que é lindo de se ver; 







3 – Vá ali, entre a Barra e a Ondina, no estacionamento externo do finado Clube Espanhol e veja o Chicletão passar. Procure se concentrar na multidão aglomerada naquela ladeira que fica em frente, e pendurada também no morro. Observe como a coreografia é linda, sincronizada e espante-se. Aquilo não foi ensaiado. Se por acaso o arrepio tomar conta de você e, rolar alguma lágrima no canto dos olhos,não precisa se envergonhar. Primeiro, porque não tem ninguém lhe olhando. Segundo, você não está sozinho! Agora, se você gosta é do Asa, “asar” o seu. Tem gosto pra tudo e também está valendo.

Mas, meu amigo, se sua praia não é curtir a folia, também não tem problema. Aproveite o feriado para estar perto de quem você ama. Ore. Adore. Refaça ou reforce os votos.
O mais importante é ter em mente que é um momento único, um período sabático, pra relaxar ou curtir, a depender do gosto do freguês, mas, que a vida volta, com tudo, na quarta-feira de cinzas. Esteja pronto para este retorno e, nas primeiras horas da quarta-feira, quando certamente você resenhará com os que não estiveram por perto, você possa, intimamente, dizer: “Valeu! Foi bom! Adeus...”

Paulo Pereira

14 de jan. de 2011

O QUE É SER FELIZ?

"Ser feliz é não ficar dodoi".
  
Resposta dada, ao ser questionado sobre o que é ser feliz.

"Urso Panda", no internamento para realização de uma biopsia.

Ele só queria poder comer suas batatas fritas...

17 de dez. de 2010

Receita de Ano Novo















Para você ganhar belíssimo Ano Novo,
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o  tempo já vivido (mal vivido ou talvez sem sentido).
 Para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser, novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior) novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha, você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens(planta recebe mensagens? passa telegramas?). Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar de arrependido pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar que por decreto da esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver. Para ganhar um ano-novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.

  (CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)

             FELIZ ANO NOVO A TODOS!!!!

13 de nov. de 2010

Nave Espacial


Efeito sonho, leve sonho, leve ave em pleno vôo, com certeza nave espacial, cortando os céus, ali vou eu.
Plumagem recoberta com as santas cores, do arco- íris reluzente, flecha, flamejante dardo, ali sou eu.
De um lado mora a noite, do outro claro dia, eu sou o sol, eu sou a lua, eu sou o universo, brilho puro.
Lá longe, cade vez bem mais além, eu vejo a velha terra, a velha mãe, tão solta e linda e nua como eu.
É sempre assim e sempre assim será, na tua quente capa de estrela, eternamente viajar no amor, eternamente amar.
Ama-me meu super mago homem fá-me especial. Ama-me meu super mago homem fá-me espacial.
(Gonzaguinha)

10 de out. de 2010

19 de set. de 2010

"Muito o que aprontar"