20 de jun. de 2011

Viva São João!

Junho chegou. Primeiro semestre indo embora. Prenúncio de mais um final de ano chegando.
Mas, para mim nordestino ‘matuto’ Junho é muito mais do que isso.
Junho para mim é tempo de cheiro. Cheiro de terra molhada pela chuva. Chuva que faz o
sertanejo passar a noite em claro agradecendo a DEUS por tanta alegria. Cheiro de pamonha,
canjica, bolo de milho e fubá, de dar água na boca. Cheiro de asfalto, da estrada que nos leva
ao interior aonde, independente de onde venhamos, todos nós ‘esquecemos’ um pouco de
nossas raízes durante os outros onze meses do ano. Cheiro de suor de menina misturado com
perfume doce, exalado no rastapé do forró gostoso, chamegado, dançado na beirinha da
fogueira.
É tempo de sabor também. Lembra do cheiro de pamonha, canjica, bolo de milho e fubá? Deu
água na boca mesmo, né? Vamos provar então? E o sabor do licor? Tem maracujá, genipapo,
tamarindo, cajá. Também tem os mais sofisticados, de menta e chocolate. Amendoim cozido
que chega derrete na boca. Cuidado para não comer a bacia inteira sozinha e penar com uma
dor de barriga daquelas. É muito sabor de amizade, de partilha, de comunhão. ‘São João
passou por aí?’ Graças a DEUS sempre passa. E, de pergunta em pergunta, de casa em casa, a
gente vai enchendo a pança. Para quem tá preocupado com a boa forma, é um crime. Para
mim sempre foi uma das 10 maravilhas do mundo.
Não posso deixar de falar dos sons. Som de trio tocando forró na praça. Milho queimando na
fogueira. De beijo conquistado na noite de São João, porque, se no carnaval é liberado ‘roubar’
beijo, no São João tem que conquistar. Som de lembrança, da voz rouca do Rei Gonzagão. Som
de reza da trezena de Santo Antonio. Há quem jure que conseguiu casar por conta deste rogo.
Som de foguete no céu, chuvinha, vulcão e bomba. De espada rasgando e zunindo e o povo
todo doido, correndo pra tudo quanto é lado. Mas, acho que o que mais gosto é o da voz doce
dos antigos, sentados na porta de casa, filosofando simples e sabiamente, ensinando de graça
aos que querem escutar.
Já falei dos cheiros, sabores, sons e agora vou falar das cores. Cor de neblina cobrindo o mato
no raiar do dia. Cor de lua cheia. Cor de estrela faiscando, quando a lua resolve ser generosa e
míngua um pouco. Estrela cai e esta cor também é ímpar. É cor de olhinho brilhando, quando o
amor vai se aprochegando. É cor quente, de roupa da quadrilha girando. É cor de casa, tão
cheia de gente de tudo quanto é cor que a gente nem consegue saber qual é a cor mesmo que
a gente tá vendo.
É tanto forró, canjica, gente, foguete, lua, licor, reza, raízes, filosofia, perfume, amor, trio,
amendoim, beijo, Gonzagão, amizade, quadrilha, conquista, chuva, fubá e estrela que só de
escrever já dá até pra sentir.
Sentiu?
Paulo Pereira

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